domingo, 27 de julho de 2008

Explicação para todos os Eles

Meus bens,
Eu não posso amar vocês. Eu não sei amar vocês. Eu desaprendi a amar daquele jeito com o último que eu amei daquele jeito. Você veio todo cheio de inquietações e eu enlouqeci tanto que cheguei a pensar que fosse o único. Não foi. Mas foi o último desse jeito que você sabe. A gente precisa jogar o tempo todo, meu bem assim eu não quero. Mil regras para respeitar, mil lugares para não pisar, outros mil para pisar de levinho. Gastei toda a jogatina com você, o último que precisava de regras. Sabe, meu bem, eu não gosto de regras, só das minhas. E tinha de tudo lá, menos minhas regras. Naquela época eu ainda sentava, e ficava observando, e aprendi a te dar rasteiras rapidinho. Hoje eu domino as rasteiras como ninguém, aprendi com você. E olha que você se repetiu três vezes. Hoje eu sei dar rasteiras profissionais. Mas não sei mais amar não. Não daquele jeito. A impaciencia deu lugar à imparcialidade. Uma imparcialidade violenta e suja, como as regras de todos os jogos que você criava com a nossa vida. Não meu bem, não que você tenha feito mal, mas agora eu não tenho mais no que me apoiar. Faz muito tempo. Agora eu me tornei você. Um pedaço de você. E você virou eu. Vocês viraram eu meus bens. Têem a jovialidade da paixão que eu tive, mas eu não tenho mais. Feri todos os depois, durantes e antes. Por jogo de cintura em excesso, por racionalidade em excesso, e me aposentei dessa vida.
No início era contínuo, com pausa de, no máximo, 3 meses entre cada um. Foram 4 anos da mesma rotina. Depois o processo me incomodou ativamente por um ano que quase não passou. Cansada, a rotina cessou por dois longos anos. Retornou aos poucos fingindo-se de desentendida, e então descobri que não me esforço em alimentá-la, não mais. Os intervalos foram aumentando, as compulsões passando. Se acabar, acabarão as inquietações os temores, mas também acabará meu combustível. Que farei eu sem rotina meu bem? Sem combustível, se agora você me diz que nem eixos regem a vida? Você também tira meus eixos, assim, de graça (?). Eu poderia chorar também. Mas eu parei de chorar por essas coisas. Quem doma meu choro é a raiva, mas eu não tenho raiva. Eu tenho inércia amorosa. Perdendo oportunidades de amores que vêem do horinzonte por pura inércia. Os sentidos todos apitam, quando vêem ao longe alguém que possa ser. Mas o tempo dos meus bens passou.
Fico aqui, então, eu, meu café, os Floyd, a Janis, meus livrinhos, mais café e todas as lembranças dos tempos mor de amor, e todas as músicas que eu lembrar, que me fazem vibrar e fazem minha garganta doer e sentir falta do céu da boca tilintando, indicativo de pequenas felicidades passageiras.
Faz muito tempo.



Faz tanto tempo meu bem, que se eu soubesse, faria um livro triste de poesias.